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Segurança no Alpinismo Industrial: Práticas Essenciais para Proteção e Eficiência em Trabalhos em Altura

  • Foto do escritor: Alpcon
    Alpcon
  • 29 de out.
  • 8 min de leitura
A segurança no alpinismo industrial não é apenas uma obrigação legal, mas um imperativo ético e estratégico. Com aproximadamente 40% dos acidentes de trabalho no Brasil relacionados a quedas em altura, a implementação rigorosa de normas, o uso correto de equipamentos certificados, o treinamento contínuo das equipes e o desenvolvimento de uma cultura de segurança sólida são elementos indispensáveis para proteger vidas e garantir a eficiência operacional.

O alpinismo industrial representa uma das técnicas mais avançadas e seguras para execução de trabalhos em altura, combinando eficiência operacional com rigorosos padrões de proteção aos trabalhadores. Esta atividade, que utiliza cordas e equipamentos especializados para acesso a locais elevados ou de difícil alcance, exige não apenas habilidade técnica, mas também um compromisso absoluto com normas e procedimentos de segurança.


O Cenário dos Acidentes em Trabalho em Altura no Brasil

Os números relacionados a acidentes em trabalhos em altura no Brasil são alarmantes e demonstram a urgência de práticas rigorosas de segurança. Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab), em 2021 foram registrados 72.293 acidentes de trabalho por diferença de nível e 329 acidentes com óbito envolvendo trabalho em altura, representando um aumento de 23,83% em relação a 2020.


Aproximadamente 40% dos acidentes de trabalho no Brasil estão associados a quedas de trabalhadores em altura, tornando-se uma das principais causas de morte entre trabalhadores, especialmente no setor da construção civil. Em 2021, o Brasil registrou 14.767 acidentes de trabalho em altura e 96 acidentes com óbito, números que evidenciam a necessidade crítica de implementação e fiscalização de medidas preventivas.


O que é Alpinismo Industrial

O alpinismo industrial é uma técnica especializada que permite a execução de trabalhos em altura utilizando sistemas de acesso por cordas, dispensando estruturas auxiliares como andaimes ou plataformas elevatórias. Esta metodologia é aplicada em diversos segmentos, incluindo:

  • Construção civil: manutenção e limpeza de fachadas, instalações prediais

  • Indústria: inspeção e manutenção de torres, chaminés, silos, vasos de pressão

  • Energia: manutenção de aerogeradores, torres de transmissão, plataformas de petróleo

  • Infraestrutura: pontes, viadutos, barragens

  • Serviços especializados: pintura industrial, soldagem, inspeção de estruturas


Normas Regulamentadoras e Legislação

NR-35: Fundamento Legal

A Norma Regulamentadora 35 (NR-35) é o principal instrumento legal que estabelece os requisitos mínimos de segurança para trabalho em altura no Brasil. Atualizada pela Portaria Federal MTP nº 1680/2025, a norma define como trabalho em altura toda atividade executada acima de 2,0 metros do nível inferior onde haja risco de queda.


Os principais requisitos da NR-35 incluem:

Capacitação obrigatória: treinamento inicial com carga horária mínima de 8 horas, abrangendo normas aplicáveis, análise de risco, equipamentos de proteção e técnicas de resgate

Reciclagem periódica: treinamento bienal com carga horária mínima de 8 horas, além de reciclagens extraordinárias em casos de mudanças de procedimentos, eventos que indiquem necessidade de novo treinamento, retorno após afastamento superior a 90 dias ou mudança de empresa

Autorização formal: apenas trabalhadores capacitados e aptos em exame de saúde podem executar atividades em altura

Análise de risco: obrigatória antes do início de qualquer atividade, identificando perigos potenciais e estabelecendo medidas preventivas

Supervisão qualificada: todo trabalho em altura deve ser supervisionado por profissional qualificado


NBR 15475: Qualificação e Certificação

A ABNT NBR 15475:2015 complementa a NR-35, estabelecendo procedimentos para qualificação e certificação de profissionais de acesso por cordas. Esta norma garante que os técnicos possuam conhecimento teórico e prático apropriado para realizar, especificar, supervisionar ou avaliar trabalhos de acesso por cordas.


Certificação IRATA

O sistema IRATA (Industrial Rope Access Trade Association) é reconhecido internacionalmente e estabelece três níveis de qualificação para profissionais de alpinismo industrial:


Nível 1 (N1): profissionais com 8 horas de teoria e 32 horas de prática, responsáveis pela execução das tarefas


Nível 2 (N2): exige 1 ano de experiência e 1.000 horas acumuladas como N1, capacitados para liderar equipes


Nível 3 (N3): requer 3 anos de experiência e 2.500 horas como N2, responsáveis pelo planejamento de sistemas de segurança e análise de riscos


Certificação ANEAC

A ANEAC (Associação Nacional das Empresas de Acesso por Corda e Resgate) é uma certificadora nacional que oferece certificação de pessoas na modalidade de acesso por cordas, sendo acreditada pelo INMETRO conforme a norma ABNT NBR ISO 17024. Esta acreditação consolida a ANEAC como organismo de certificação competente, garantindo reconhecimento e validação internacional das certificações emitidas.

A certificação ANEAC também estabelece três níveis de qualificação profissional:


Nível 1 (N1): não exige experiência profissional anterior, sendo o nível inicial para profissionais que desejam ingressar no alpinismo industrial. Requer idade mínima de 18 anos, escolaridade mínima de 6ª série do ensino fundamental completa, atestado de saúde ocupacional (ASO) atualizado e aprovação em exame teórico e prático


Nível 2 (N2): exige qualificação N1 com mínimo de 12 meses e comprovação de 1.000 horas de experiência em acesso por cordas, incluindo variedade de situações de trabalho e técnicas. Profissionais N2 são capacitados para supervisionar equipes diretamente em trabalhos verticais simples de acesso por corda em ambientes urbanos


Nível 3 (N3): requer qualificação N2 com mínimo de 30 meses e 2.500 horas de experiência acumulada. Profissionais N3 são responsáveis pela supervisão remota ou in loco, planejamento de sistemas de segurança, análise de riscos e autorização de documentos de registro de acesso por corda

A certificação ANEAC possui validade de 3 anos a nível internacional, devendo ser renovada através de recertificação que atenda aos mesmos critérios estabelecidos para a certificação inicial. Após o período de validade, o profissional deve ser recertificado a cada 3 anos subsequentes.


Principais diferenças entre IRATA e ANEAC:

Enquanto a IRATA é uma entidade internacional com foco na certificação e padronização global de práticas de segurança em acesso por cordas, a ANEAC atua prioritariamente no contexto nacional brasileiro, oferecendo suporte técnico e operacional às empresas brasileiras, além de certificação com reconhecimento internacional. Ambas as certificadoras compartilham o mesmo objetivo de promover segurança e competência profissional no setor de acesso por cordas.


Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) Essenciais

A utilização correta de EPIs certificados é fundamental para garantir a segurança no alpinismo industrial. Os equipamentos obrigatórios incluem:


Arnês de corpo inteiro: também chamado de cinturão tipo paraquedista, distribui o impacto em caso de queda, prevenindo lesões graves

Capacete de segurança: protege contra impactos, quedas e objetos ejetados

Cordas: utilizadas duas cordas simultaneamente - uma de trabalho (suspensão) e outra de segurança, geralmente dinâmicas ou semi-estáticas conforme o tipo de atividade

Mosquetões e conectores: devem ser robustos e possuir sistema de segurança para evitar abertura acidental

Trava-quedas: dispositivo essencial que trava o cinto de segurança em caso de queda

Talabarte: possibilita o deslocamento seguro do trabalhador, geralmente duplo com absorvedor de energia

Descensores e ascensores: equipamentos auto-blocantes que permitem controle de velocidade na descida e facilidade na subida

Sistemas de ancoragem: pontos de fixação que devem suportar cargas de pessoas e equipamentos, com resistência e estabilidade verificadas

EPIs complementares: luvas de segurança, botas adequadas, óculos de proteção, proteção respiratória e auricular conforme necessidade

Todos os EPIs devem possuir Certificado de Aprovação (CA) do Ministério do Trabalho, além de certificações internacionais como CE (Comunidade Europeia), NFPA (Associação Nacional Americana de Proteção contra Incêndio) e UIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo).


Inspeção e Manutenção de Equipamentos

A inspeção regular dos equipamentos é vital para garantir que estejam em condições adequadas de funcionamento. O programa de inspeção deve incluir:


Inspeção pré-uso: verificação visual e tátil antes de cada utilização, identificando desgastes, cortes, deformações ou danos

Inspeção periódica: cronograma de inspeções regulares documentadas, com atenção especial a cordas, arneses, mosquetões e pontos de ancoragem

Critérios de descarte: equipamentos com sinais de desgaste, danos estruturais ou que ultrapassaram o prazo de validade estabelecido pelo fabricante devem ser imediatamente descartados

Registro de inspeções: manter documentação detalhada de todas as inspeções realizadas, identificando equipamento, data, responsável e condições encontradas


Principais Riscos e Medidas de Prevenção

Riscos Identificados

Os principais riscos no alpinismo industrial incluem:


Quedas de altura: risco mais grave e imediato, podendo resultar em lesões graves ou fatais

Exposição a condições climáticas extremas: ventos fortes, chuvas intensas, temperaturas extremas e tempestades elétricas aumentam significativamente os riscos

Fadiga física e mental: o trabalho em grandes alturas é fisicamente exigente, podendo comprometer a integridade do profissional

Equipamentos defeituosos: mau funcionamento ou uso inadequado de equipamentos de segurança

Síndrome do trauma de suspensão: condição médica grave que pode ocorrer quando uma pessoa fica suspensa pelo arnês por período prolongado


Medidas Preventivas Essenciais

Para mitigar esses riscos, devem ser implementadas as seguintes medidas:


Análise de risco detalhada: estudo aprofundado das tarefas a serem executadas, identificando e mitigando riscos potenciais

Avaliação prévia do perímetro: vistoria completa do local antes do início das atividades, mapeando perigos e definindo rotas de acesso

Treinamento contínuo: capacitação especializada e atualização periódica em técnicas de acesso, uso de equipamentos e normas de segurança

Monitoramento das condições meteorológicas: suspensão dos trabalhos em caso de mau tempo

Supervisão constante: profissionais qualificados devem supervisionar todas as operações para garantir cumprimento dos procedimentos

Sistemas de comunicação eficazes: rádios ou dispositivos de comunicação entre equipe de alpinismo e solo

Conformidade com normas: cumprimento rigoroso da NR-35, NBR 15475 e outras normas aplicáveis


Plano de Resgate e Emergência

Um dos aspectos mais críticos da segurança no alpinismo industrial é a existência de um plano de resgate estruturado e testado. O plano deve contemplar:


Procedimentos específicos: desenvolvimento de planos de resgate adaptados a cada trabalho, considerando as particularidades do local e da atividade

Equipe treinada: profissionais capacitados em técnicas de resgate em altura, incluindo auto-resgate e resgate assistido

Equipamentos de emergência: disponibilidade imediata de equipamentos de resgate e kits de primeiros socorros

Simulações regulares: exercícios periódicos de resgate e situações de emergência para manter a equipe preparada

Tempo de resposta: definição clara da duração esperada do resgate até o ponto de encontro com socorro especializado

Comunicação de emergência: procedimentos claros para acionamento do plano, com definição de papéis e responsabilidades

Primeiros socorros: capacitação da equipe em atendimento básico para estabilizar vítimas enquanto aguardam socorro profissional


Vantagens do Alpinismo Industrial

Quando executado com rigor nas práticas de segurança, o alpinismo industrial apresenta vantagens significativas em comparação com métodos tradicionais:


Segurança aumentada: segundo estudo da IRATA, técnicos alpinistas que utilizam EPIs adequados apresentam o menor risco de acidentes ou ferimentos em trabalhos em altura

Custo-benefício: redução de até 85% nos custos operacionais comparado à montagem de andaimes, com menor necessidade de mão-de-obra

Agilidade: instalação e desmobilização rápidas, permitindo início imediato das atividades

Acesso facilitado: alcance de locais onde estruturas de apoio não conseguem chegar, sem limitação de altura

Menor impacto visual: importante para trabalhos em monumentos e estruturas históricas

Redução de espaço: dispensa grandes áreas para instalação de equipamentos auxiliares

Versatilidade: adaptação rápida a diferentes tipos de serviços sem necessidade de mudanças na estrutura de acesso


Cultura de Segurança

A construção de uma cultura de segurança robusta é fundamental para a redução efetiva de acidentes. Esta cultura envolve:


Compromisso da liderança: gestores devem demonstrar comprometimento genuíno com a segurança, estabelecendo-a como prioridade organizacional

Participação ativa dos trabalhadores: envolvimento de todos os níveis hierárquicos nas discussões e implementações de medidas de segurança

Aprendizado contínuo: análise sistemática de incidentes e quase-acidentes para identificar melhorias

Comunicação transparente: canais abertos para relato de riscos sem medo de represálias

Investimento em capacitação: recursos dedicados ao treinamento e desenvolvimento contínuo das equipes

Documentação adequada: manutenção de registros detalhados de treinamentos, inspeções, avaliações de risco e procedimentos de segurança


Responsabilidades Compartilhadas

O cumprimento da NR-35 e a garantia de segurança no alpinismo industrial é responsabilidade tanto de empregadores quanto de empregados:


Responsabilidades do empregador:

  • Garantir implementação das medidas de proteção

  • Promover capacitações adequadas

  • Assegurar a realização de análise de risco

  • Fornecer EPIs certificados e em perfeito estado

  • Manter registros atualizados

  • Desenvolver e implementar planos de resgate


Responsabilidades dos trabalhadores:

  • Utilizar corretamente os EPIs fornecidos

  • Participar dos treinamentos obrigatórios

  • Colaborar na implementação das medidas de segurança

  • Comunicar situações de risco

  • Interromper atividades em condições inseguras


Conclusão

A segurança no alpinismo industrial não é apenas uma obrigação legal, mas um imperativo ético e estratégico. Com aproximadamente 40% dos acidentes de trabalho no Brasil relacionados a quedas em altura, a implementação rigorosa de normas, o uso correto de equipamentos certificados, o treinamento contínuo das equipes e o desenvolvimento de uma cultura de segurança sólida são elementos indispensáveis para proteger vidas e garantir a eficiência operacional.


O alpinismo industrial, quando executado com profissionalismo e aderência aos padrões de segurança estabelecidos pela NR-35, NBR 15475 e certificações IRATA e ANEAC, representa uma das técnicas mais seguras e eficientes para trabalhos em altura. A conformidade com essas diretrizes, aliada ao compromisso compartilhado de empregadores e trabalhadores, é a chave para minimizar riscos e transformar cada operação em um exemplo de eficiência, segurança e responsabilidade profissional.



 
 
 
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